segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Sobre suicídio entre gays: uma experiência

Na época do ocorrido eu morava em Limeira, interior de SP. Estava com meus 20 anos, 1,86m e cerca de 110Kg (eu acho). Me sentia feio, rejeitado e pressionado por uma sociedade que cobrava mais um hetero e menos um gay. Em conversas com colegas descobri que um médico ortopedista receitava remédios que prometiam emagrecer. Sim: ortopedista receitando remédios. Na ânsia de ter um "corpo padrão" marquei a consulta e comprei o que ele receitou. Eram quatro frascos de remédios controlados, sendo três faixas preta e um vermelha. Comecei a tomar.

Até aquele momento eu havia namorado com uma garota do Ensino Médio por um ano. Antes dela foram várias investidas em outras garotas. Eu precisava me enquadrar! Já não tinha amigos homens durante o ensino fundamental. Era chamado constantemente de bicha, boiola - atitude que anos depois recebeu o nome de bullying e passou a receber mais atenção dentro das escolas. Enfim... o enquadramento era necessário. Eu me punia mentalmente por sentir prazer com homens e me forçava a imaginar relações com mulheres.

Apesar disso, essa pressão não vinha de casa, por isso minha história deve ser diferente das demais que contam com o mesquinho "fundamentalismo religioso". Nunca ouvi de meus pais que eu precisava namorar uma mulher. Este tema também não aparecia no catecismo que frequentei quando criança. No entanto, o ambiente escolar cuidava dessa pressão, dessa cobrança indevida.

Com a necessidade de enquadramento social, o problema de aceitação e a autoestima baixa devido à imagem que eu tinha de mim mesmo, um belo dia tomei 40 dos comprimidos que o ortopedista havia receitado. Foram 30 comprimidos faixa preta e 10 vermelha. Quando engoli o último, deitei no quarto escuro. Porém, ao invés de esperar não acordar mais, um arrependimento gigantesco tomou conta de mim. Na época eu era mais religioso e comecei a orar. Me senti abraçado, como um recém nascido que é acolhido nos braços da mãe pela primeira vez.

Me levantei e fui me despedir da minha irmã. "Eu te amo muito, saiba disso e me desculpa pelas milhares de brigas". Na sequência fui conversar com minha mãe. Eu estava pálido, ela me contou depois. Também disse que a amava muito, mas, além disso, disse que eu gostava de homens e de mulheres e queria que ela soubesse disso.

Apavorada ela me levou correndo para o hospital. Tomei soro com algum tipo de remédio que me faria expelir a droga do corpo. Quiseram fazer um boletim policial acusando tentativa de suicídio, mas minha mãe não deixou.

Todos aqueles remédios me deixaram em estado eufórico. Não dormia e falava mais que o Faustão enquanto tenta entrevistar alguém. No dia seguinte, tive uma espécie de efeito rebote e uma depressão muito profunda pegou o lugar da euforia. Não conseguia dormir ainda porque milhares de pensamentos ruins vinham na cabeça e tudo o que eu podia e conseguia fazer era chorar. Um choro sem motivo as vezes.

Costumo contar a história para pouquíssimas pessoas. Esta é a história de como contei para minha mãe que era gay e também de como eu me assumi como tal. Digo que a expressão "se assumir" tem sentido pra mim depois de toda a cobrança que fiz a mim mesmo.

Anos depois, na verdade há uns três, em 2012, fiz amizade com uma estudante de psicologia que trabalhava no mesmo lugar onde fazia estágio. Eu já havia estudado a visão da sociologia sobre o suicídio, mas ela me disse algo que fez muito sentido: "A tentativa de suicídio é como um renascimento, é uma forma de mudar quem você é quando você não consegue outra forma e apela para este método".

Não foram exatamente estas as palavras, mas é esta a mensagem. Eu não me aceitava. Eu queria mudar e me enquadrar, mas não conseguia. Queria por um fim naquilo tudo e recomeçar. Queria, na verdade, poder nascer de novo, mas heterossexual ou "normal", como eu enxergava na época.

O resultado dessa tentativa felizmente frustrada foi a perda da confiança da minha mãe. Ela me disse isso um tempo depois do ocorrido e não tive como discutir. Além disso, se antes ela sequer cobrava uma postura heterossexual de mim, depois ela passou a cobrar. Imagino que a forma como contei minha opção a ela seja a pior possível e, por isso, o processo de aceitação dela foi complicado. Tive que mostrar a ela que ser gay não era o que a mídia de então mostrava, ou seja, pessoas promíscuas, superafeminadas e estereótipos malfeitos de mulher. Aos poucos fui mostrando que há infinitos tipos, todos com suas qualidades e defeitos, como qualquer ser humano heterossexual.

Enfim... o assunto da minha opção sexual não é discutido em casa. Minha mãe é fechada e reservada com os sentimentos dela e eu aprendi a respeitar esse espaço antes de mais nada. Minha experiência mostrou que impor a opção nem sempre é a melhor forma. O respeito deve ser mútuo, senão "acordado entre as partes".

E sobre o suicídio, afirmo com todas as letras que ele não compensa. Como disse minha amiga é uma necessidade de mudança dentro de um túnel onde não há uma luz. Você permanece naquela escuridão e não consegue ver que há sim saídas. Uma delas, quando consideramos pais extremamente religiosos e intolerantes, por exemplo, é a conquista da independência tendo em vista o respeito pela cabeça (muitas vezes antiquada) que não podemos condenar. As crenças e visões de mundo são socialmente construídas e, é importante que se diga, são construídas em realidades e contextos distintos.

Com tudo isso deixo um (ou reforço o) conselho: se você percebe que a vida é insustentável perto de uma família que não aceitaria de forma alguma sua condição, use essa realidade como força para mudar sua vida. Estude, trabalhe, encontre seu lugar.

Hoje, com 28 anos, moro em outra cidade, a alguns quilômetros da casa de minha mãe. Estou terminando minha segunda faculdade, já conclui meu mestrado e estou prestes a voltar ao mercado de trabalho. De certa forma eu poderia ter continuado a morar lá, mas ter um lugar para chamar de meu (embora alugado) é algo que não abro mão.

Moral da história: se suicídio é necessidade de mudança, construa a sua mudança vivo porque de outra forma é impossível. =)

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Não espere, deixe-se surpreender

Uma vez li ou ouvi uma frase assim: "Não crie expectativas com as pessoas e deixe-se ser surpreendido". Confesso: para mim isso é muito difícil. Confesso mais uma coisa: meus dois últimos namoros foram muito baseados nas expectativas que eu criava em torno dos meus ex-namorados. E hoje eu percebo que também crio algumas expectativas em relação aos meus amigos, mas tento repetir a frase acima como um mantra.

Nos casos dos relacionamentos eu sempre esperei um dia abrir a porta dos apartamentos onde morei, chamado pela campainha ou pelo bater de uma mão na porta e encontrar os ex's com uma flor na mão. Ou então achar um bilhete no meio do meu caderno escrito "Surpresa: te amo". As expectativas iam até os momentos mais apimentados. Certa vez fiz uma caixinha do sexo com KY, gel de pimenta doce para massagens, uma toalhinha (para limpar a porra depois do sexo, porque esse ex tinha nojo) e algumas pimentas que estavam ali felizes de decoração. Esperava um sexo fenomenal resultante da surpresa, mas o que aconteceu foi que o KY nunca foi usado até o final da relação.

Outro acontecimento que me marcou muito (negativamente) foi quando criei todo um clima romântico para dar nossas alianças de compromisso a um dos ex. Deixei a sala da casa da minha mãe toda escura e, na mesinha de centro, coloquei um coelhinho de pelúcia segurando a caixinha com as alianças, pétalas de rosa espalhadas por toda a mesa e um ovo de páscoa do bombom Sonho de Valsa. Ia levá-lo para a sala logo depois de jantarmos. Tínhamos escolhido fazer um churrasco a dois, mas a ideia foi péssima: por não conseguirmos acender a churrasqueira ele ficou todo estressado. Daí miou tudo... quando ele viu a surpresa mal manifestou alguma reação. O sexo com alianças que eu esperava foi por água abaixo...

Sim, esperava demais dos meus relacionamentos e nunca fui surpreendido. Do último nunca ganhei uma flor. Presente de dia dos namorados foi uma xícara da Brasil Cacau com algumas trufas dado alguns dias antes da data. Nenhum bilhete por mais que eu mandasse os meus...

Com o tempo fui me percebendo melhor e vi o quanto minhas expectativas atrapalhavam meus relacionamentos. Sim, tenho culpa no cartório, mas não receber nenhuma flor em um ano é demais...

Hoje, solteiro, percebi que projeto minhas expectativas em alguns amigos. Contudo, a razão tende a falar mais alto e não dá para generalizar. As vezes espero receber uma ligação de uma amiga de longe perguntando como estão as coisas ou então o aceite de um convite que insisto em fazer para receber outros amigos na minha casa e jogar conversa fora. Contudo, cada um tem sua vida própria, seus problemas, prazos e prioridades. Mas, o que entristece é dizer a alguns deles que não estou bem comigo mesmo e não ganhar alguns minutos de conversa reconfortante, daquelas que terminam com um abraço e os dizeres: "calma, tudo vai dar certo".

Enfim... é de se entender que a vida não está fácil para ninguém. Ou eu consegui perceber a tendência do mundo moderno, ou o mundo moderno me excluiu das relações afetivas de amizade.

A questão é uma só: expectativas são criadas para serem frustradas a qualquer momento. Não criá-las é uma dádiva!

sábado, 11 de abril de 2015

Brincadeira (?) de crianças...

Lembro até hoje da minha primeira série no Ensino Fundamental por dois motivos que me marcaram muito. O primeiro foi a grande ansiedade em poder escrever de caneta nos cadernos novos. A passagem do pré para uma "escola de gente crescida" foi incrível. Estava eu sentado na segunda ou primeira carteira da fileira da porta esperando a professora escrever algo na lousa para poder copiar no caderno com a caneta recém comprada. Era uma escola pública do Estado de São Paulo. Década de 1990. Nos álbuns de fotos da minha mãe tem eu lá com o uniforme todo orgulhoso. Gordinho, com o shorts azul parinho na cintura, camiseta por dentro dele e uma pasta rosa na mão.

Apesar de lembrar que eu sempre chorava quando minha mãe mandava eu descer do carro e entrar na escola no meio desse primeiro ano de ensino fundamental, o segundo motivo que me marcou muito não foi esse. Na verdade esse motivo tem nome e idade: Maicon, 12 anos. O nome é esse mesmo, a idade é algo que fica um tanto quanto nebuloso na minha cabeça. Era a época em que o governo tucano de São Paulo ainda não tinha adotado a progressão continuada na rede de ensino, então a probabilidade de eu ter sete anos e ele 12 é grande. Porém, é uma informação que continua nebulosa.

Enfim... o fato é que Maicon foi o responsável pela minha primeira experiência sexual. Sim, aos sete anos. Tudo começou com um bilhete cuja mensagem é tão nebulosa quanto a idade dele. Foi algo como "Você gosta de chupar pinto?" ou algo do gênero. Lembro que respondi com cara feia o primeiro bilhete, mas a curiosidade se levantou (até então só a curiosidade levantava...) como um se levanta uma criança sai correndo quando ouve que a mãe tem dois bombons nas mãos, um para ela e outro para sua irmã mais nova. Respondi o bilhete. Não sentava mais na frente da sala, mas sim na última carteira da fileira da janela.

A escola estava em reforma naquela época. O prédio principal era antigo. Era uma das unidades de ensino mais antigas da cidade já naquela década e lembro que eu ficava fascinado com as escadas que pareciam ser de mármore e a fachada azul. Até hoje a escola está lá, do mesmo jeito, com apenas algumas modificações na quadra e em outras partes do prédio, mas ao passar na sua rua me transporto para aqueles anos com facilidade.

Bilhete vai, bilhete vem. Ele sugeriu irmos ao banheiro. A professora estabelecia que apenas um aluno de cada sexo podia ir ao banheiro naquela época. Com o intuito de fazer esse controle e também nos ensinar que era preciso lavar as mãos depois de ir ao banheiro, quando um de nós precisava ir ao banheiro tínhamos que pedir e depois pegar a saboneteira azul ou rosa que ficava na lousa da sala, juntas dos giz.

Maicon se levantou e pegou a azul. Logo depois eu pedi para ir ao banheiro. Quando a professora lembrou as regras, disse que era urgente (Sim, aprendi a dar desculpas descaradas logo cedo). Ela acabou deixando e lá fui eu atrás do repetente da turma. Entramos numa das cabines do banheiro masculino e ele pediu para eu baixar a bermuda. Baixei e ele ficou num vai e vem estranho na minha bunda de sete anos. Achei estranho. Lembro que não sabia o que estava acontecendo direito... Aí ele pediu para eu colocar a boca no seu pênis, ou piu-piu, como eu conhecia na época (não, ele não usou esse termo, mas era como minha mãe chamava o meu. Ownnnnn). Achei o gosto muito estranho e não quis colocar uma segunda vez. Ele saiu primeiro, eu depois (algo que todo gay deve ter passado na vida: "espera um pouco pra sair tá?" Inclusive isso me aconteceu esses dias quando sai com um pai de uma adolescente de 15 anos que dormia no quarto ao lado e poderia estar acordada quando eu saísse do quarto dele).

A primeira experiência foi estranha. Acho que eu não tinha entendido onde minha curiosidade tinha me levado. Na certa me levou a um vai-e-vem estranho e a um gosto muito ruim na boca (gosto que nunca mais senti, mesmo depois de ter uma vida sexual mais ativa).

A troca de bilhetes continuou. Não lembro se voltamos ao banheiro, mas no camarim do palco da escola sim, várias vezes. Quando a professora descia com a classe para as aulas de Educação Física na quadra, eu e ele íamos para aquele local. Eu tinha que baixar a bermuda e ficar espiando se alguém vinha enquanto ele fazia o mesmo vai-e-vem. Além disso eu também tinha que colocar a boca no piu-piu dele. O gosto era estranho, mas eu gostava. Tanto gostava que cheguei a mandar bilhetes para ele o convidando para ir ao banheiro ou ao camarim do palco.

Depois de algumas vezes. que não sei precisar quantas foram, a "brincadeira" acabou. Este fim pode ser incluído na lista de momentos marcantes como o terceiro. Quem escrevera o bilhete tinha sido eu e numa linguagem totalmente inapropriada para uma criança de sete anos. Deve ter sido algo como "quero chupar seu pinto". O que tornou esse momento marcante foi o fato de a professora ter pego o bilhete, lido em voz alta para toda a sala e ter chamado meus pais para entregá-lo.

No momento devo ter sentido vergonha (lembrança nebulosa), mas os demais dias do ano letivo foram "normais". Minha mãe não falou nada na época. Meu pai também não. Na verdade, nenhum dos dois nunca tocaram no assunto nestes 28 anos. Foi como se essa passagem fora apagada da memória dos dois. Não lembro de ter tido uma conversa sobre o assunto com a professora também. Um tabu? Uma vergonha, sim, mas para quem? Afinal, o que dizer a uma criança de sete anos no começo da década de 1990 que mandou um bilhete para o amigo mais velho pedindo por sexo oral?

Guardei essa história por muitos anos. A primeira vez que toquei no assunto com alguém foi com uma amiga de Rio Claro, depois com um ex-namorado. Brinquei com os dois que o motivo de eu ser tão bom no sexo oral é que eu tinha começado a praticar aos sete anos. Fora esse humor negro-colorido, a conversa serviu como um alerta para minha amiga que, na época, tinha um filho com seis anos e estava começando sua vida de estudante.

Além deste "alerta", o assunto me vem à cabeça quando falamos sobre a "opção sexual". Pela minha experiência ser gay não é uma opção. Eu devo ter saído da barriga da minha mãe já com trejeitos gays. Excessos a parte, fui uma "criança viada", um adolescente viado e hoje sou um adulto viado. Porém, essa "descoberta" eu fiz sozinho e num processo muito doloroso - que conto em outra oportunidade. Não tive apoio nem diálogo com minha família sobre o assunto. Eu sofri o que hoje chamam de bulling tanto na escola quanto dentro da minha própria família. Tenho um primo que até hoje não suporto olhar no rosto por lembrar como ele me insultava por ser afeminado nessa época dos primeiros anos do Ensino Fundamental. Foi tudo velado, essa é a palavra. Velado e sofrido.

Com tudo isso, vem a proposta deste texto: mães, conversem com seus filhos sobre sexo. Pode parecer exagero falar sobre esse assunto com crianças de sete anos, mas aqui está meu relato para mostrar que não é bem assim. A esposa de um primo me contou algo que me marcou. Segundo ela e sua mãe, que também fazia parte da conversa, o pai dessa família sempre abordava o filho mais velho dizendo que não importava se ele gostasse de homens ou mulheres, o amor que sentiam por ele não mudaria de forma alguma. Eu NUNCA ouvi essas palavras de ninguém. Muito pelo contrário, eu as disse aos meus pais, com outras palavras, mas com a intenção de dizer: "não importa se eu gosto de cromossomos XX ou XY, eu sou o filho de vocês e não sou menos capaz por conta disso tudo".

Outro propósito: professoras, não façam o que a minha fez. Alguns anos mais tarde voltei a estudar com duas meninas que estavam na mesma classe que eu na primeira série. Em uma conversa elas mencionaram algo sobre o tal bilhete. Dessa vez sim eu lembro ter sentido muita vergonha. Era como se a sociedade estivesse apontando o dedo na minha cara e mostrando como eu era uma aberração errada e fora das normas perfeitas da década. Quer queira, quer não, essas professoras têm um papel importantíssimo na vida das crianças que educam. Não é apenas ensinar as operações matemáticas e as capitais dos estados brasileiros, elas devem identificar situações e problemas e comunicar os pais com discrição os fatos. Talvez se eu tivesse uma professora mais consciente ela teria instruído minha mãe a como agir naquela situação, como conversar e não apenas como encontrar um psicólogo e me mandar conversar com ele (o que aconteceu anos depois quando repeti a atitude do Maicon com uma criança mais nova, algo que me causou uma vergonha gigantesca na família).

Bom, é isso... desabafo, alerta, pedidos feitos. Espero que esse texto chegue a alguém e que sirva pra algo nesse mundão virtual.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Tem música que diz TUDO





"I could get caught up in bitterness
But I'm not dwelling on this crazy mess
I found freedom in the ugly truth
I deserve the best and it's not you
You broke my heart, but you can't bring me down
I was falling apart, what was lost, now I'm found
I picked up my crown, put it back on my head
I can forgive, but I will never forget"


Link: http://www.vagalume.com.br/madonna/living-for-love.html#ixzz3UyHxl395

sábado, 14 de março de 2015

Fim de namoro - as conclusões

1) O começo foi muito rápido e tinha tudo para dar errado (e de fato deu);

2) Nos primeiros encontros ele se vendeu como uma pessoa extremamente madura - isso foi mentira:
2.1) Primeiro porque ele não estudou um só dia para fazer o vestibular;
2.2) Segundo porque não tinha um mínimo de maturidade para morar longe dos pais ou de alguém que fizesse todo o serviço para ele (no caso, a irmã dele);
2.3) e terceiro porque ele não tinha capacidade de ter uma conversa sobre o relacionamento sem se sentir ofendido. Ao longo do namoro ele se mostrou extremamente intransigente e nunca senti que ele havia compreendido uma ou outra reclamação que eu fiz.

3) Quando eu precisei de um apoio sentimental dele, não pude contar. Mesmo sabendo que estava depressivo, ele não se dispunha a conversar comigo e simplesmente me ouvir;

4) Ele me atrapalhou MUITO. Suas conversas se resumiam a fofocas sobre a carreira e as "divas" da música pop ou sobre videogames. Nenhum problema com esses assuntos até o ponto que SÓ EXISTEM esses assuntos! E o pior: ele me chamava para conversar sobre isso enquanto eu estava trabalhando na minha monografia ou na minha dissertação!!!!!!!!!!!!

5) Mais de uma vez percebi que ele enviava fotos suas sem camiseta para outras pessoas. Seu aplicativo Snapchat tinha uma contagem de troca de fotos excessiva. Quando o questionei desse fato, ele disse que era a equipe de administração do aplicativo que enviava muitas fotos. Detalhe: eu também tinha o aplicativo e minha contagem não era deste tamanho. Ademais: ele apagava várias conversas no whatsapp para eu não ver e tinha vários "ex's" no facebook com quem mantinha conversas regulares. (sim, esse ponto mostra um pouco de ciúmes, mas essa desconfiança se confirmou depois:)

6) Depois que terminei o namoro, várias pessoas vieram conversar comigo e me falaram da falta de caráter dele. A pior parte de tudo foi receber as fotos que ele enviava para outros homens e também os relatos de casos que ele teve com outras pessoas enquanto não estava comigo;

7) Traição a parte, ficar sabendo que ele disse aos amigos que foi ele quem resolveu separar, foi algo que me mostrou o quão certa foi minha decisão;

8) Outra conversa dele que chegou até mim: "O XXXX cozinha muito bem, mas é muito preguiçoso". ISSO FOI... indescritível.

9) Pensei que iria ficar muito mal com o fim do namoro. Que ia ficar triste, mais depressivo ainda.... mas algumas semanas depois percebi que não chorei em nenhum momento sequer. Se lágrimas não dizem nada, me senti superbem desde o final do namoro. Tenho amigos maravilhosos com quem pude conversar e desabafar e isso ajudou MUITO.

10) A fila anda... ;D

Fim de namoro - a história

Há pouco mais de um mês terminei mais um namoro. Este foi de um ano. Um ano muito cansativo tanto por conta das crises de relacionamento quanto também por fatores externos e ligados à minha vida acadêmica.

Eu diria que tudo terminou pelo cansaço e por um nível de racionalidade que me faltava há um certo ponto. Nesta história de quase 13 meses alguns pontos saíram muito fora da curva e não houve como trazê-los para um caminho mais seguro.

O primeiro desses pontos foi a rapidez com que tudo começou. O conheci no final de 2013. Começamos a conversar por Whatsapp e em cinco dias fui encontrá-lo. Mais três dias e já havíamos marcado uma estadia num hotel em uma cidade vizinha das nossas. Dois ou três dias depois já estávamos namorando. Sem dúvida nenhuma este foi um dos maiores pontos fora da curva e hoje enxergo alguns motivos para ter chegado a este ponto. O maior destes motivos foi minha carência excessiva. Estava solteiro há menos de seis meses quando já engatei em outro relacionamento. Não houve tempo para nos conhecermos melhor e decifrar algumas das mentiras que ele contou nos primeiros encontros (sim, aqui há um pouco de rancor, a ser explicado logo).

Por conta da minha vida acadêmica, resolvi me mudar mais uma vez para a cidade onde minha universidade está localizada. Acredito que menos de 60km separam minha cidade natal deste segundo município. Não é muito e seria possível viajar todos os dias como fiz em um dos seis semestres de curso até o início de 2014. No entanto, por conta da quantidade de disciplinas que assumi nos dois cursos que faço na universidade e também para facilitar meus encontros com esse namorado, a mudança foi uma das soluções que saltaram aos olhos. Ele encontrou um apartamento mobiliado no centro da cidade pra mim e propôs que eu dividisse o espaço e as contas com uma amiga que ele conheceu na balada.

A confiança que ele depositou nesta amiga nos levou ao pior ponto fora da curva dessa história. Foi o que também provocou vários conflitos. A garota que ele havia indicado estava desempregada e recebendo seguro-desemprego na época. Durante um mês convivemos bem. Porém, antes de ter que arcar com o segundo aluguel ela resolveu sair do apartamento. Sim, e o pior: sem pagar o que devia. Por conta disso, esse namorado resolveu se mudar para morarmos juntos e "dividir" as contas.

Atribuo a este fato o posto de pior acontecimento do namoro porque, além de ter sido um passo muito maior que a perna, nenhum dos dois estava seguro da "união". Lembro até hoje que, no começo do namoro ele havia me falado que tinha medo de namorar porque era muito fechado e que poderia estragar tudo por conta dessa sua característica. No momento da mudança ocorreu uma fala muito parecida da parte dele. Nos dois momentos ressaltei a importância da comunicação contínua e calma entre os dois. Sem conversas sinceras e livres de orgulho nada vai adiante - e já havia aprendido essa lição há muito tempo. Contudo, como exigir que alguém aprenda a se expressar quando não há um mínimo de vontade? (momento de rancor #2).

No começo dessa "vida conjugal" tudo foi ótimo e perfeito. A situação, embora contra nossas vontades, tinha se mostrado uma oportunidade para eu ajudá-lo a estudar para o vestibular que ele tanto falou que tinha o sonho de prestar no final de 2014. Ele queria estudar economia ou biologia numa universidade pública (ou particular mesmo); trabalhar; fazer uma poupança e, por fim, abrir um negócio próprio. Essa determinação foi um dos pontos que mais me encantou naqueles primeiros encontros no final de 2013 e início de 2014. Parecia ser alguém com um objetivo claro, estudioso, esforçado... parecia. Ficou apenas na aparência.

O tempo foi passando num ritmo lento, mas a relação, em alguns momentos, parecia que já durava anos, dado nosso entrosamento e afinidades. Algo que percebi, contudo, é que tempo lento não passa e traz alguns problemas. Os estudos que ele disse que iria fazer, não fez. No meio do primeiro semestre resolveu comprar um videogame que há tempos queria. Além disso, seu emprego o consumia além do horário comercial o forçando a fazer várias horas extras.

A somatória de fatores acima aliada à uma imaturidade extrema me levou a assumir uma postura de mãe, pai, irmã, empregada, cozinheira, babá, conselheiro inútil, entre outros papeis que não me cabiam. A limpeza da casa era algo terrível. Não tinha ajuda para nada, muito menos para cozinhar para nós dois. Com isso, toda essa responsabilidade ficou nas minhas costas. Porém, como mencionei antes, tinha (e ainda tenho) uma vida acadêmica muito cheia para cuidar. Meus horários, por conta dos estudos, era (e ainda é) totalmente irregular. Sou muito mais noturno que diurno e essa vida acadêmica me "ajuda" a manter esse padrão por não ter muitos horários além das aulas que havia me matriculado. Contudo, esse fato era um problema muito grande para ele lidar. Principalmente porque aos finais de semana eu gostava de dormir mais que o normal, para colocar em dia o sono atrasado da semana. Mas... eu não podia dormir e, enquanto estava acordado ainda precisava cozinhar, lavar a louça E a roupa e limpar a casa. Me sentia como uma verdadeira mãe e dona de casa. Nada contra o segundo papel, que tenho prazer de ser, mas tudo contra o primeiro, afinal não comecei a namorar para criar um marmanjo que já tinha pelo no saco.

Essa situação foi tão cansativa que várias brigas aconteceram. A maior delas resultou na expulsão dele de casa. Durante uma discussão na qual eu cobrava mais colaboração dele, ele simplesmente optou pela chantagem emocional e disse: "Desse jeito eu vou embora para casa!". Como eu NÃO estava lidando com uma criança que, quando enjoa de brincar na casa do primo, resolve voltar pra casa, simplesmente o expulsei. Acredito que ele esperava que eu voltasse atrás o pedindo para ficar naquele momento da briga, mas fui irredutível: joguei todas as roupas dele na cama, fiz uma trouxa com seu edredom e o mandei embora.

A pior parte disso foi que eu me arrependi. Arrependi de o ter expulsado e hoje me arrependo de ter me arrependido... kkkkkk. Essa repetição toda é porque perdi o controle emocional naquela época. Liguei inúmeras vezes pedindo desculpas pelas palavras que havia usado e pedi para ele voltar para lá. Mal sabia eu que isso levaria a colocar minha vida emocional na frente da acadêmica, mas estava cego. Resumindo: liguei para ele inúmeras vezes e em alguns dias nosso namoro estava reatado, embora cada um morando num lugas, mas dividindo ainda as contas.

Enfim, toda aquela história de manter um diálogo que eu apontei no começo do namoro se mostrou mais que impossível. Depois dessa briga e da expulsão, ele voltou e não falou absolutamente nada sobre o assunto. O resultado foi que eu fiquei como o único culpado e ele nunca disse que queria ter ido embora. Ou seja: (1) para todos seus amigos ele contou que havia decidido ir embora por conta própria e não que foi expulso; (2) e na sua própria cabeça, ele atribui toda a culpa a mim como se nunca tivesse usado aquela chantagem.

Bom... isso passou. Eu aqui, ele lá. Finais de semana juntos e algo surpreendente: nas primeiras semanas que ele foi no apartamento parecia outra pessoa: fez a limpeza sozinho e sem reclamar. Porém, alegria de pobre dura muito pouco. Ele fez essa limpeza uma ou duas vezes. Na terceira eu já precisei cobrar. Na quarta... não houve quarta. Ou seja: eu voltei aqueles papaeis que não me cabiam, mas numa situação, agora, diferente.

Depois de me humilhar para pedir que nosso namoro não terminasse, me dei conta de que algo muito errado estava acontecendo comigo. Não só por dormir demais, mas também por não conseguir lidar com a carência excessiva que me impunha. Resolvi procurar ajuda e descobri que realmente estava com depressão. Neste ponto veio uma decepção com ele: quando disse que tinha agendado um psiquiatra, ouvi as seguintes palavras: "mas isso é coisa de gente doente". Meu mundo veio ao chão. Ficou mais que claro que eu não tinha, e nunca teria, espaço para conversar sobre meus problemas pessoais, apenas estava ali para ouvir os dele, tentar aconselhar e mesmo assim meus conselhos entravam por um ouvido e saia pelo outro.

Todas essas decepções aliadas a uma piora no meu desempenho acadêmico me fizeram assumir uma postura diferente. É aquela que descrevi no primeiro texto deste blog, a do "foda-se". Na verdade, percebi que eu poderia ser o problema e o causador de vários conflitos no relacionamento. Por estar depressivo, algumas vezes era tomado por alguns sentimentos de tristeza profunda e chorava sem parar. Além disso, em outros momentos, esses sentimentos eram sobrepostos ao primeiro pensamento que me vinha a mente. Explico: vinha um sentimento muito ruim e quando tentava analisá-lo vinha outro pensamento sobre alguma briga ou conversa suspeita que visualizei nas redes pessoais dele. A partir dai, uma tempestade num copo d'água estava feito.

Quando me dei conta disso, me controlei. Resolvi colocar minha carreira acadêmica acima de qualquer coisa, afinal um dos meus cursos estava muito próximo do fim e exigia uma dedicação a mais para concluí-lo. Engoli sapos; deixei a limpeza para segundo plano; me dediquei. Tudo sozinho. Na única vez que pedi ajuda a ele para fazer download de alguns materiais, ele se recusou alegando que estava de férias e que não faria nada. (isso foi PÉSSIMO - e acredito que ele percebeu pois tentou me ajudar uns meses depois, mas não fez nem 1% da ajuda que havia pedido a ele e já alegou cansaço).

Enfim... assumi essa postura e resolvi que iria pensar realmente no namoro quando apresentasse minha monografia e fizesse as últimas provas que tinha que fazer. Quando esse momento chegou, passei a olhar para o namoro com um outro olhar, muito mais analítico.

Logo em seguida mudei de apartamento e no primeiro dia que ele passou comigo já apresentou todos aqueles vícios que eu repugnava veemente no passado. Numa discussão simples ele fez a mesma chantagem pela segunda vez. Quando eu o alertei que "se ele pensava que naquele novo apartamento eu daria uma de mãe mais uma vez, estava muito enganado", ele simplesmente disse: "desse jeito eu vou embora". Resultado: o mandei embora e ele foi. Chegou a voltar alguns dias depois, mas logo resolvi colocar um fim no relacionamento.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Quem conversa consigo mesmo, se descobre

Chegando perto dos 30 anos, percebi que muitos dos conflitos em que me envolvi foram criados por uma mente bagunçada. Isso de certa forma não descarta a questão da maturidade. Experiência depois de experiência fui enxergando partes do complexo quebra-cabeças que é a vida e a formação desta imagem é, para mim, minha maturidade. Ainda faltam muitas peças, mas ao começar a dedicar um tempo a um diálogo comigo mesmo percebi que estou descobrindo a posição de cada uma das partes do desenho que quero completar.

O quebra-cabeças não deve acabar nunca. Viver é descobrir como chegar o mais perto da unidade completa. Afinal, se chegar aos 40, 70 ou 90 anos sem descobrir algo novo sobre mim mesmo parece algo sem sentido algum.

Tendo isto em mente, resolvi criar este blog. Não é um diário, mas traz textos com minhas experiências pessoais e observações que faço da vida. Algo que me deu a iniciativa para começar a escrevê-lo foi as férias da minha terapeuta. Por não ter com quem conversar, resolvi a retomar os diálogos comigo mesmo.

Aqui sou escritor da minha biografia, espero que minhas experiências possam ajudar outros a entender mais de si mesmos.